Tá-se bem, bem mesmo
Ontem fui ao teatro. Devo confessar que era algo que não fazia há muitos anos, desde o tempo em que ia ao teatro em visitas de estudo, ainda nos tempos da escola, ainda antes de ir para o liceu. O pouco teatro a que assisti depois disso resume-se a umas quantas obras de Shakespeare que acompanhei pela televisão em canais ingleses, pobre substituto de uma peça ao vivo. Das menos de meia dúzia de experiências teatrais que vivi na minha "infância" sempre saí agradado e agradavelmente surpreendido com o que vi, pelo que o facto de eu não ir ao teatro com frequência se deve mais à falta de hábito do que a qualquer preconceito contra essa nobre e vetusta forma de arte. Penso que esse é também o mal dos restantes Portugueses, é mais seguro ir ao cinema, mais barato também, já sabemos ao que vamos e dificilmente somos surpreendidos, além disso é muito mais fácil encontrar assunto de conversa para discutir numa festa chata quando se foi ver um filme que o resto do mundo também já viu. Mas voltemos um pouco atrás na estória. Antes de assistir à peça, fui juntamente com os amigos que me acompanhavam jantar a um restaurante chinês situado em Telheiras. Na opinião de um grande amigo meu este é sem dúvida o melhor restaurante chinês da cidade, opinião que me pareceu algo dúbia e falaciosa, mas que pude comprovar não estar isenta de fundamento. O cliente incauto que aí entra pela primeira vez é logo agradavelmente surpreendido pela harmonia visual da decoração dominada à entrada por uma fonte contendo umas quantas tartarugas (suponho que não para consumo da casa), tudo longe do habitual look plástico tipo loja dos 300 (ou do euro e meio) que é hoje a imagem de marca de outros restaurantes de semelhante etnia. Surpreendentes são também as dimensões consideráveis daquela que é apenas a primeira de duas salas e cuja modesta fachada não deixavam antever. Felizmente chegámos cedo e o estabelecimento encontrava-se quase vazio pelo que escolhemos uma mesa agradável e encomendámos, confiando no experimentado gosto de um dos amigos que me acompanhavam, no que veio a provar-se ser uma escolha acertada. Realmente a comida era excelente, com cada prato a apresentar um gosto específico em vez do habitual sabor uniforme e já algo repetitivo que usualmente encontro noutros restaurantes chineses e que me fez até encarar com relutância inicial o jantar que aqui descrevo. Em companhia agradável e divertida as quase 2 horas que duraram a refeição passaram num ápice, não me apercebendo eu sequer que à nossa volta as mesas se iam enchendo de outras pessoas que, tal como nós, pareciam apreciar verdadeiramente a refeição e o ambiente. Alguns minutos antes do início da peça rumámos então ao Teatro da Luz, tendo ocupado os nossos lugares numa sala pequena mas acolhedora, revelando-se mais tarde também possuidora de uma excelente acústica que permitia seguir sem esforço até os mais pequenos murmúrios dos actores. Na platéia apenas 30 pessoas a assistir entre algumas colunáveis que não reconheci, menos de meia casa. Pelo que me explicaram esta peça, 'Tá-se' de seu nome, está já em fase de reposição, tendo-se tratado mesmo de um sucesso assinalável durante o período de exibição normal. Em traços largos a obra trata das relações entre quatro jovens universitários, dois rapazes e duas raparigas que partilham um apartamento, passando-se toda a acção na sala comum da casa. Os quatro protagonistas são interpretados por quatro jovens que eu não reconheci mas que me disseram tratarem-se de actores que se dividem frequentemente entre o palco e as novelas. Tal como já disse não sou espectador habitual de peças de teatro pelo que não vou fingir saber criticar convenientemente o mérito ou a falta dele nos actores ou no argumentista (ou dramaturgo ???). Sei porém reconhecer aquilo de que gosto e desde já afirmo que gostei imenso, tal como o restante público que participou activamente nas gargalhadas quase constantes que enchiam a pequena sala. Um pormenor chamou-me a atenção, a presença de dois televisores tamanho gigante de cada lado do palco e que tinham como função acompanhar por meio de uma câmara de video os actores, sempre que estes saíam em direcção aos camarins para trocar de roupa, normalmente todos juntos, no que constituía o avanço temporal na estória. Desta forma o espectador não fica a olhar para um palco vazio e o ritmo por vezes alucinante a que se sucedem as cenas não é quebrado. E também é agradável ver as actrizes em trajes menores. Naturalmente. Dos actores posso dizer que gostei da espontaneidade dos quatro e da maneira como estavam perfeitamente integrados na estória, da forma descontraida com que falavam e da naturalidade das reacções que provocavam uns nos outros, como se estivessem realmente a viver juntos uma rotina de vários anos.
Depois da noite de ontem, para mim uma das mais bem passadas dos últimos tempos, fiquei naturalmente com vontade de repetir a dose, opinando ainda que os 10 Euros que custou o bilhete foram dados por muito bem empregues.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home