De volta à terra
Depois de longa ausência em que tirei umas férias do blog dentro das férias do trabalho, volto finalmente a escrever aqui, por coincidência numa altura em que o país chora um campeonato perdido mas de onde sai claramente de cabeça erguida. É com esse pensamento em mente, com a sensação do dever cumprido e até com a alegria de ter visto bom futebol por parte da nossa selecção que recordo aqui o dia de ontem, fatídico dia da final do europeu, aquele que poderia ter sido um dos maiores dias na vida de cada português(ou quase...).
Tendo combinado ir ver a final a casa de um amigo que mora a escassos 800 metros do Estádio da Luz saí de casa por volta das 18:30, bem antes do início da partida e para lá me dirigi a pé que a curta distância outra coisa não justificava. Imediatamente notei que as pessoas escasseavam nas ruas, viam-se apenas uns quantos transeuntes ocasionais que, tal como eu, se dirigiam vestidos e enfeitados a rigor para casa de amigos ou familiares para em conjunto fazerem a festa mais do que anunciada. Apesar do respeito que a equipa grega infundia pelo facto de ter deixado pelo caminho grandes selecções e ter já vencido a equipa portuguesa, ninguém considerava como possibilidade séria outro resultado que não a vitória, principalmente se atendermos ao actual estado de graça que atravessava o 11 lusitano. Chegado ao meu destino esperava-me já uma bela caracolada regada com a cervejinha gelada da ordem no que constituiu um excelente prelúdio da festa que se augurava de arromba. Discutida a táctica, as opçoes de Scolari e as anteriores exibições a partida teve enfim início. Nos primeiros minutos cedo se viu que a Grécia se desdobrava em campo na sua formação típica, 3 centrais, 2 laterais, 1 trinco, 2 extremos a tender para o meio e muito chegados ao meio campo e 2 avançados, um deles mais recuado com a missão de transportar jogo para o ataque. Até aqui não existiam surpresas. O que desde logo me surpreendeu foi o facto da equipa lusa se apresentar numa forma idêntica à que mostrou na partida inaugural contra estes mesmos gregos, jogando sem velocidade e sem capacidade de penetração na apertada trama defensiva adversária. Desde cedo que senti que o jogo ia ser difícil, tal era a forma como o nosso adversário conseguia de forma evidente congelar todos os esforços de espevitar o jogo. Depois a lesão de Miguel, um dos mais esforçados até então. Deco que não acertava um passe, Figo e Ronaldo que não conseguiam nunca escapar às marcações cerradas, Pauleta que... bem, Pauleta na habitual pasmaceira. À medida que o tempo passava tornava-se por demais evidente que Portugal não conseguiria marcar, já que apenas por um par de vezes chegou com perigo à baliza adversária na 1ª parte. Depois o temido golo grego no único canto de que dispuseram em toda a partida. A partir daqui foi óbvio o entregar do jogo por parte dos gregos para se remeterem por inteiro à defesa do resultado. Rui Costa ainda deu esperança mas não foi suficiente. É obvio que jogar contra uma equipa tão fechada não é fácil, que o digam Iñaki Sáez, Jacques Santini ou Karel Brückner, todos eles seleccionadores de grandes potências europeias que foram caindo a pouco e pouco aos pés de um futebol que longe de bonito ou digno tem apenas o condão de ser bastante eficaz. Na minha opinião o grande mérito da vitória helénica deve ser atribuido ao seu treinador, Otto Rehhagel, que soube construir um autentico conjunto combativo e sólido, ainda que tendo que recorrer frequentemente ao claro anti-jogo. O futebol grego é uma autêntica tragédia, principalmente para os adversários que os defrontam. Se por um lado estava satisfeito com o facto de Portugal ter ultrapassado os Quartos de Final, meta que considerava obrigatória, não é sem uma ponta de desespero que encaro a derrota frente a uma equipa como a grega. Perder sim, mas contra uma verdadeira equipa de futebol. Perder assim não faz sentido. Mas deste europeu não guardo apenas o sabor amargo da derrota no derradeiro jogo. Como é possivel esquecer o mês de esperanças, sonhos e alegrias proporcionados por uma competição que foi inexcedível a todos os níveis ? Quem disse que Portugal é um país de gente incapaz ? Quem pode afirmar agora que não sabemos fazer tão bem ou melhor que os nossos parceiros europeus ? E quem disse que os portugueses não amam o seu país e dele não se orgulham ? O que é uma derrota comparada com a sensação inesquecível de ver milhares de bandeiras verdes e vermelhas ao vento, a alegria nas ruas nas comemorações das vitórias (mas também ontem na derrota), uma nação inteira a cantar o hino nacional em uníssono antes de cada partida ? O europeu acabou mas os portugueses saem fortalecidos no espírito e no orgulho, que não só de pão vive o homem e a verdade é que estávamos todos a precisar.
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