Vida alternativa
Hoje acordei cedinho, infelizmente sou daqueles que dormem mal e pouco, e rumei à Costa da Caparica para uma daquelas almoçaradas em família que fazemos regularmente entre os membros do clã radicados em Lisboa. Assim que cheguei vi-me confrontado com a incontornável obrigação de passar a manhã toda a trabalhar. Em primeiro lugar tinha de lavar o carro que não via água desde o último casamento a que fui, há quase 2 meses. A tarefa seguinte consistia no aparar do relvado que não via a máquina há mais de 6 meses e que por esta altura atingia já, em alguns locais, a mágnifica altura de meio metro. Em atenção ao facto de estar de férias decidi iniciar o trabalho pela leitura do jornal desportivo do dia, inteirando-me de antemão das escolhas de Scolari para o jogo de hoje. Depois e com um alento já acrescido iniciei a lavagem da viatura, mas uma lavagem suave, nada de muito complicado ou minucioso que o carro já está velho e o sol já apertava. Entre conversas com os vizinhos que iam passando e mangueiradas fortuítas no veículo lá acabei a tarefa de forma minimamente satisfatória, pelo menos o suficiente para não ter de ouvir a minha mãe reclamar mais da camada de sujidade que transformava um carro branco em bom estado num chaço amarelo-acastanhado. Lancei-me então à 2ª tarefa da manhã, o corte dos dois pequenos rectângulos de relva que decoram a frente da casa, tarefa essa que já implica maior esforço fisico, mas à qual não arranjei maneira de me furtar. De qualquer forma é um trabalho que faço com um certo prazer, agora bastante mais facilitado pela máquina que me foi emprestada por um amigo. Antes cortava a relvinha à tesourada numa missão que normalmente se estendia por várias horas e que terminava indubitávelmente em bolhas nas mãos e dores pelo resto da semana. Sempre gostei de jardinagem embora reconheça não ter grandes conhecimentos do assunto. Basta-me a alegria de ter as maõs na terra, os pés descalços em contacto com a relva acabada de aparar e a constatação final de um trabalho bem feito, a simetria do relvado, o tapete verde regular. Passada uma hora e muito suor perdido deito-me cansado mas satisfeito na erva fresca, com as pernas ao sol e a cabeça protegida pela vegetação que circunda a casa. Inspiro a tranquilidade do local, um pinhal ainda não muito desbastado, onde os pardais e melros abundam e enchem o ár com as suas vozes estridentes. Penso no que a malta da cidade perde em nunca ter experimentado nada disto, não saber o que é ir pelos montes atrás dum rebanho de ovelhas, jogar às cartas à sombra refrescante de um carvalho ou beber a água límpida numa fonte que jorra de uma rocha. Tudo isto são recordações da minha infância quando ia passar férias à aldeia dos meus pais no belo distrito da Guarda, bem junto à mais alta serra do nosso Portugal. Nestes momentos sou frequentemente assaltado pela sensação de que a vida é bem simples, nada de problemas, stresses ou pressas, só a tranquilidade e o calor do sol. Prazeres simples que muitas vezes menosprezamos mas que com o passar do tempo aprendemos a apreciar cada vez mais. Ergo-me enfim para uma mangueirada de água fria que me ajuda a refrescar e voltar à realidade. É tempo de ir ver do almoço, não esquecendo que o Portugal - Grécia está já a poucas horas.
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