Badasso's Blog

terça-feira, agosto 03, 2004

Insegurança Pública

Um dia destes sucedeu-me uma coisa curiosa e que dá que pensar. Ligaram-me a meio da noite de um dos clientes da minha empresa onde andamos a efectuar umas migrações de dados com a queixa de que teria havido um problema e que a minha presença seria necessária. Lá me dirigi eu então, embora algo contrariado, tinha acabado de subir de divisão no CM e não me estava nada a apetecer deixar o jogo a meio, ainda por cima numa fase tão importante da época como é o defeso. Mas enfim, isto quando toca a trabalho temos que nos aguentar.
Cheguei à porta das instalações do cliente, por sinal uma importante instituição do estado da qual vou obviamente omitir a identidade. Deviam ser umas 23:30, bati e fui recebido por um segurança que por acaso eu não conhecia. Logo senti que o sentimento era mútuo, até pela forma curiosa como me mirou, a modos que a pensar, "o que quererá este tipo a esta hora ?" Em tais situações tenho por hábito ser o mais sério e profissional possivel, identifico-me, digo ao que vou e fim de papo, mantendo sempre um mínimo de cordialidade como é óbvio. Nunca tive feitio para ser arrogante com ninguém. Desta vez porém decidi apostar numa aproximação mais amigável, para ver até onde poderia ir a coisa. Disse que tinha sido chamado, havia um problema numas máquinas lá para dentro, o segurança retorquiu que ninguém lhe tinha dito nada, eu brinquei com a situação afirmando que também não tinha vontade nenhuma de ali estar, deveria era já estar na caminha. Quantos filmes destes é que vocês já viram ? A táctica deu resultado, mandou-me entrar, fechou a porta e disse-me que tinha de assentar o meu nome. Porreiro, preparava-me eu para puxar do cartão que me identifica como funcionário da minha empresa quando o sujeito me diz com o ar mais bonacheirão do mundo : "Ora diga lá então o xenhôr qual é o seu nome ?". Já que era assim disse-lhe o nome, por acaso usei o verdadeiro, resisti a dizer que me chamava Horácio Furibúndo, o camarada assentou a hora de entrada, eu ensinei-o a escrever o nome da minha empresa que é uma coisa deveras difícil e com mais uma laracha que o deixou a rebolar de riso lá entrei eu no centro informático da casa, tendo desde logo livre acesso a centenas de milhares de euros em material informático e mais importante ainda, a uma bela base de dados cheia de informações sensiveis sobre cerca de 1.8 milhões de compatriotas.
Fiz o meu trabalho, saí para o lobby e dando de caras com o segurança perguntei se queria que eu assinásse a folha de entradas ao que me respondeu que "Não xenhôr, não era necessário..., isto tem é que ficar cá assente o nome de quem entra ou quem sai. Comigo isto é tudo muito organizadinho." Ainda bem, pensei eu, olha se não fôsse. Mais uma troca de palavras sobre o estado da vida, os tipos trabalhadores como nós é que se lixam enquanto os gajos lá de cima andam cheios de massa, enfim, saí com a sensação que tinha feito um novo amigo.
Confesso que achei a situação divertidissima mas esta atitude reflecte bem a forma de pensar e de estar na vida do Português típico, o trabalho é para ir fazendo, sem se chatear muito e de preferência sem chatear mais ninguém, nem sequer precisa saber muito bem o que faz ou a quantas anda desde que o ordenado pingue ao fim do mês. Exemplos como este em termos de (in)segurança fazem-me pensar que o Europeu de Futebol só não se tornou num banho de sangue porque os terroristas devem andar todos ocupados a estagiar para o próximo ataque aos americanos.
De realçar ainda que a referida instituição gastou aqui há uns anos uma bela soma em alarmes, portas de segurança com cartões codificados, protecções electrónicas nos acessos remotos à rede informática e mais uma catrefada de coisas que são simplesmente deitadas por terra por qualquer chico esperto que se apresente à porta com vontade de entrar...

Nota : Enquanto escrevo este post chove cupiosamente lá fora. Lindo, nada como trabalhar em Agosto com tempo húmido. E a malta que está de férias que se lixe!!!