Badasso's Blog

sexta-feira, junho 25, 2004

E a França também já lá vai

Devo desde já dizer que na minha opinião os gregos não jogam um caracol. Mas os franceses também não. Por esta ordem de ideias e pelo facto de estes últimos possuirem a galáxia de estrelas que todos lhes reconhecem penso terem a obrigação de mostrar um futebol bem mais agradável do que as pobres exibições com que nos contemplaram. Tirando o primeiro jogo com a Inglaterra em que a equipa de Santini conseguiu com algum mérito dar a volta ao resultado (mas não com futebol que se visse), a verdade é que as exibições dos franceses têm rondado o medíocre, cada vez mais a fazer lembrar a decepção que foi o mundial de 2002. Se dentro das quatro linhas as coisas não correm visivelmente bem, do banco também não vem grande ajuda. Considero Santini um dos piores treinadores deste campeonato, com uma falta absoluta de visão e de sentido táctico. O mais fácil mesmo era colocar os franceses que actuam no Arsenal nas posições a que normalmente jogam pelo clube inglês e depois preencher o resto do onze com Zidane e mais uns quantos. De certeza que a coisa resultava melhor. Por estas e por outras é que eu preferia que Portugal tivesse enfrentado a França nos Quartos de Final...

P.S.: Tou com algumas dificuldades em perceber os jornalistas ingleses que não se calam a queixarem-se que foram roubados pelo árbitro e que mereciam ter ganho o jogo contra Portugal, onde aliás opinam terem jogado de forma soberba. Uau!!!

O senhor que se segue

E Portugal continua no Euro, qual caravela batida pelo vento e fustigada pela tempestade mas que à custa de muito esforço prossegue no seu caminho rumo à terra prometida. Pessoalmente sempre pensei que à nossa selecção seria no mínimo exigivel a passagem aos Quartos de Final e que após esse objectivo conseguido o que viesse à rede era obviamente peixe. Mas face às fenomenais exibições dos jogadores, às repetidas demonstrações de vontade e carácter a que temos assistido nos relvados, às boas opções tácticas do Scolari e até à ponta de sorte que finalmente parece acompanhar-nos e que dizem ser sempre essencial, começo a acreditar que realmente temos uma equipa, não apenas um conjunto de vedetas, e que poderemos de forma realista chegar à Final. Quanto ao resultado de ontem, as vitórias por penalties sabem sempre a pouco, já que fica no ár o fantasma do "ter ganho com sorte". Antes pelo contrário, Portugal realizou uma exibição consistente em que justificou plenamente a vantagem final, numa partida bastante limitada por um golo fortuíto e mais uma vez oferecido ao adversário logo aos 2 minutos. Não é nada fácil iniciar o jogo a perder, ainda mais contra uma equipa inglesa que de imediato se remeteu à defesa do resultado. Aliás parece-me por demais evidente que Eriksson foi claramente vencido no campo táctico e principalmente que esteve mal nas substituições efectuadas, não tendo reforçado a tempo um meio campo que practicamente não se viu. A Inglaterra jogou apenas entre a defesa e o ataque, com lançamentos longos à procura da velocidade de Owen e mais tarde Vassel que substituiu o malogrado Rooney (e que falta que ele fez...). A verdade é que os ingleses marcaram nos dois únicos erros defensivos da nossa equipa, louvando-se indubitavelmente a taxa de aproveitamento registada mas ficando a idéia clara que pouco mais fizeram para justificarem a vitória na partida. Excelente desta vez esteve Scolari nas substituições, quanto a mim saíram exactamente os jogadores que tinham de sair e entraram exactamente os que tinham de entrar. Primeiro retirou Costinha para colocar Simão na extrema esquerda, passando Figo para o centro do terreno. Figo que estava claramente em baixa de frescura saíu para o lugar de Postiga abrindo desta forma a frente de ataque, até porque Nuno Gomes já estava a mostrar sinais de cansaço. Finalmente a entrada de Rui Costa para o lugar de Miguel, com a brilhante colocação de Deco a lateral direito, posto que o luso-brasileiro ocupou com eficiência. Beneficiou desta forma a selecção já que Rui Costa entra fresco contra uma defensiva inglesa desgastada e saturada pela constante pressão lusitana. Foi pena o golo de Lampard a 5 minutos do final num lance em que o nervosismo se apoderou da defesa lusa e em que todos seguiram a trajectória da bola esquecendo-se de marcar os jogadores que estavam soltos. O 2 - 1 no final do tempo regulamentar era um resultado muito mais adequado e justo que assentava que nem uma luva à exibição conseguida. Aqui fica então a habitual avaliação individual :

Ricardo - Acabou por se transformar em herói da partida ao defender um penaltie e apontar o decisivo. Esteve seguro ao longo de todo o jogo, apesar do pouco trabalho dado pelos ingleses.

Jorge Andrade - Parece subir de forma à medida que os jogos passam. Boa exibição a marcar Vassell não permitindo que este recebesse a bola de forma a usar a grande velocidade que possui.

Ricardo Carvalho - Mais uma grande exibição d'"O Central". Com menos trabalho que contra a Espanha esteve bem a defender Owen e a fazer as dobras a Andrade.

Nuno Valente - Subiu menos no terreno que no jogo anterior, estando mais remetido a tarefas defensivas que desempenhou de forma superior.

Miguel - Algumas subidas pelo flanco mas sem a exuberância da brilhante exibição contra a Espanha. Foi bem substituido já que apresentava claros sinais de desgaste. Muito bem na recuperação de bolas do meio campo para trás.

Costinha - Mais uma vez a jogar encostado aos centrais começou por dar o primeiro golo aos ingleses num passe deficiente para Ricardo. Não se deixou abater e fez uma boa exibição, ainda que discreta.

Maniche - Excelente jogo de um jogador que a continuar assim nunca mais perderá a titularidade nesta equipa. Mais uma vez desempenhou missão de trinco e de municiador do ataque, recuperando inúmeras bolas e saindo com velocidade para a frente.

Deco - Mais apagado que frente aos espanhóis, ainda assim esteve em plano de destaque pela forma como atacava sempre o adversário com a bola, reforçando de forma decisiva a zona intermediária. Sem Maniche e sem Deco, Scolari não se poderia dar ao luxo de colocar Costinha a jogar tão junto à defesa e mesmo assim ter um meio campo mais forte que o inglês. Fantástica abnegação a jogar a lateral direito nos últimos 40 minutos.

Figo - Fisicamente debilitado efectuou ainda assim algumas boas incursões no ataque criando sempre perigo. Pior esteve quando derivou para o meio após a entrada de Simão pelo que foi bem substituido.

Cristiano Ronaldo - Fenomenal a forma como, após um jogo inteiro de duelo intenso com Ashley Cole, consegue ainda ter forças para correr áquela velocidade durante o prolongamento. Mais uma confirmação nesta equipa.

Nuno Gomes - A jogar sozinho entre Campbell e Terry conseguiu mesmo assim incomodar, entrando bastante em jogo na tentativa de tabelar com os homens que vinham de trás. Claramente exausto no prolongamento lutou até ao fim.

Simão - Entra para dar mais velocidade ao flanco esquerdo e para efectuar o cruzamento para o primeiro golo lusitano.

Postiga - Mostrou claramente ser uma alternativa mais do que viável a Pauleta, apontando um golo na única oportunidade de que dispôs.

Rui Costa - Cada vez que vejo a repetição mais me convenço que foi um grande golo. Grande Golo!!!

segunda-feira, junho 21, 2004

Mais um episódio para mais tarde recordar

Ouvi em diversos canais televisivos antes e depois da partida que ontem era o dia certo para 23 anos depois nos vingarmos dos espanhois. Vingámo-nos não sei bem de quê, nunca soube que estivessemos em guerra com os nossos vizinhos do lado, principalmente quando dependemos tanto deles no plano económico para sobreviver enquanto nação. No plano puramente desportivo que é onde a referida vitória deve encaixar fizemos uma exibição e um resultado histórico, daqueles jogos que vou recordar até morrer. Este Espanha - Portugal vai direitinho para a prateleira de recordações de longa duração, juntamente com outros emocionantes mas nem sempre felizes resultados. Assim que penso nisso logo me vêm à memória um França - Portugal em 1984 e outro em 2000, ambos para o Campeonato da Europa, um Roma - Benfica em 1983 para a Taça Uefa (jogo que me levou finalmente a estabelecer-me como adepto ferrenho do clube encarnado), um Arsenal - Benfica em 1991 para a então Taça dos Campeões Europeus. Sem esquecer a vitória portista na mesma Taça na época de 86/87 bem como as derrotas benfiquistas em 87/88 e 89/90. Entre outros grandes jogos, alegres vitórias e amargas derrotas devo por demais destacar aquele que para mim foi a melhor partida de futebol a que assisti em toda a minha vida. O Itália - Brasil no mundial de 1982 em que os italianos venceram por 3 - 2. Esta minha opinião é sem dúvida algo duvidosa já que o referido jogo se passou há 22 anos e a memória tem a irritante tendência de não ser fiável, algumas coisas desaparecem outras são acrescentadas. De qualquer forma lembro-me perfeitamente de vários momentos da partida em questão e apesar dos 8 anos que tinha na altura, recordo-me da alegria imensa que acompanhava cada golo brasileiro bem como a profunda decepção com que a partida terminou, levando-me inclusivamente às lágrimas. O curioso é que apesar de eu gostar imenso da equipa brasileira e das suas estrelas, Falcão, Zico e principalmente Sócrates, a equipa que eu mais admirava era a Alemanha. Já nem me recordo porquê mas nos jogos de bola com os amigos cada um de nós era sempre um jogador alemão, eu era o Pierre Littbarski, extremo esquerdo que jogava com o número 7 e que aliava a técnica à extrema inteligência em campo.

Fianalmente começou o nosso Europeu

A alegria que sinto ao escrever estas linhas só é ultrapassada pelo prazer que tive ao ver um jogo que para mim foi dos melhores espectáculos de futebol que tive oportunidade de acompanhar neste Europeu. À selecção portuguesa era pedido que ultrapassasse um obstáculo durissimo, uma equipa espanhola que se encontrava no 3º lugar do ranking da Fifa, contando com jogadores de classe mundial e que ainda por cima não se podia dar ao luxo da derrota se quisesse seguir em frente na competição. A selecção respondeu como um todo e realizou uma das melhores exibições de sempre, principalmente na 1ª Parte em que os extremos portugueses deram uma autêntica lição de futebol à defensiva espanhola. Faltou apenas o homem na área para poder concretizar os lances de golo que eram servidos pelas pontas, Pauleta mais uma vez passou ao lado do jogo e não me admira que tenha perdido a titularidade (Finalmente!!!). Costinha a jogar muito atrasado em relação ao seu meio campo não apoiava muito Maniche pelo que este teve trabalho redobrado na recuperação de bolas na intermediária e na saída para o ataque. A defesa lusa sempre a grande altura ia aguentado lá atrás, falhando apenas numa ocasião em que Torres atirou ao poste. Na 2ª Parte e apesar do esquema táctico ser o mesmo, Nuno Gomes acabaria por alterar tudo com um golo soberbo, num dos seus movimentos clássicos de rotação e remate. A partir daí o jogo tornar-se-ia mais aberto com a Espanha balanceada para o ataque a criar mais espaços na sua defensiva. Nesta altura a defesa nacional vacilou um pouco, a disponibilidade fisica já não era a mesma, e os lances de perigo rondavam a nossa baliza. Portugal ia também desperdiçando lance após lance para matar o jogo, com Costinha, Nuno Gomes e Maniche a fazerem o mais difícil para falharem o mais fácil. Vamos então à apreciação individual dos atletas :

Ricardo - Bastante seguro entre os postes acabou por não ter grande trabalho, destacando-se porém a excelente saída a pés juntos a cortar lance de perigo na 1ª Parte.

Nuno Valente - Grande exibição do lateral esquerdo, soberbo a secar Joaquím que não conseguiu nunca passar por ele e muito bem no apoio ao ataque criando mesmo alguns lances de perigo em cruzamentos para a área. Perfeito.

Jorge Andrade - Finalmente com uma exibição merecedora da fama que possui, sendo porém algumas vezes surpreendido em velocidade por Torres. Continua a abusar da charutada quando deve jogar com mais calma.

Ricardo Carvalho - Para mim o homem do jogo, Ricardo Carvalho claramente a cotar-se como um dos melhores centrais do mundo e a estabelecer claramente a sua titularidade na equipa. Fenomenal na forma como lê as desmarcações adversárias, antecipando-se sempre com conta, peso e medida. Espantosa a disponibilidade fisíca que põe em campo e a forma rápida e decidida como surge em apoio aos companheiros da defesa. Grande jogador.

Miguel - Mais uma grande exibição de Miguel a justificar a titularidade. Não era fácil defender Vicente, que surgia claramente como a principal arma ofensiva dos espanhois mas Miguel conseguiu-o plenamente, arranjando ainda fôlego para subir no terreno e trabalhar de forma excelente com Cristiano Ronaldo no flanco direito. Desceu fisicamente na 2ª Parte, principalmente no último quarto de hora e poderia e deveria ter sido substituído.

Costinha - Em plano de menor evidência que os seus companheiros já que jogou prácticamente colado à defesa numa tentativa de marcar individualmente Raúl. Acabou por não apoiar o meio campo como seria suposto mas desempenhou bastante bem o seu papel já que Raúl practicamente não tocou na bola.

Maniche - Grande entrega de um jogador que teve a dura tarefa de segurar o meio campo e apoiar o ataque. Apenas alguns têm coração para tanto e Maniche mostrou claramente que é um deles. Teve excelente oportunidade para fechar o jogo ao tourear com classe Casilhas e rematar para a baliza entreaberta mas viu Raúl Bravo cortar a bola em cima da linha.

Luís Figo - Outra grande exibição, fez claramente lembrar o Figo dos tempos do Barcelona, dando um autêntico recital de fintas e simulações, superiorizando-se vezes sem conta a Pujol e Bravo. A calar de uma vez por todas os detractores que o queriam enviar para o banco.

Cristiano Ronaldo - Claramente um dos melhores jogos da sua vida, a lembrar a exibição que fez contra o Manchester United neste mesmo estádio e que lhe valeu a contratação para o clube inglês. Soberbo no uso da velocidade e da finta, fez o que quis de toda a defesa espanhola, arrancando excelentes cruzamentos que não foram aproveitados por um Pauleta ausente. Um Ronaldo assim será sempre titular.

Deco - Mais uma peça fundamental no esquema lusitano, rubricando mais uma exibição de classe. Excelente na forma como luta pela posse da bola e na velocidade que imprime ao jogo quando sai com esta controlada. Continuo a achar que não deveria fazer parte desta equipa mas já que faz...
Começa a fazer esquecer Rui Costa.

Pauleta - Mais uma exibição apagada de Pauleta. O esquema táctico de Scolari não parece beneficiar muito o ponta de lança mas Pauleta faz 3 jogos em que practicamente não toca no esférico. Pode ter perdido aqui a titularidade.

Nuno Gomes - Entrou para marcar o golo da vitória e se isso não fosse suficiente teve ainda oportunidade de fazer o segundo após trabalho individual de mérito sobre o defesa espanhol rematou na cara de Casilhas para a defesa deste.

Petit - Entrou a substituir Figo numa altura em que a Espanha se lançava declaradamente ao ataque e em que seria urgente dar mais força a um meio campo orfão de um verdadeiro trinco.

Fernando Couto - Entra a 5 minutos do final numa clara tentativa de segurar o jogo, acalmando com a sua experiência uma defensiva que parecia prestes a quebrar sobre a pressão espanhola.

Deste mágnifico desafio de futebol guardo apenas a mágoa de ter sido obrigado a acompanhá-lo pela TVI, onde a juntar ao habitual comentador cretino estava José Mourinho que aproveitou para uma jornada de promoção dos jogadores do Porto. Já se foi embora mas continua a trabalhar em prol de quem lá ficou, até aqui muito bem. Eu é que dispensava bem a xaropada.

sexta-feira, junho 18, 2004

Tradutores fajutos

Hoje passei a manhã lá por minha casa, iam-me ligar a TvCabo pelo que enquanto esperava pelos técnicos fui-me entretendo a desempacotar os caixotes e a arrumar as coisas pelos armários recém forrados a papel. Descobri numa das caixas uma balança nova, prenda de natal ou aniversário (já não me recordo) da minha madrinha, pelo que decidi imediatamente estrear a dita. Após ter rasgado o plástico que recobria a balança reparo que por baixo da mesma se encontra uma folha de papel com instruções de uso. Instruções de uso para uma balança, penso eu. Será mesmo necessário ler instruções para aprender a usar uma balança ??? E ainda por cima em 4 linguas diferentes. Epá, altamente profissional. Aqui fica então o texto em inglês e em suposto português para melhor se compararem.

Bathroom Scale
PLEASE NOTE: BEFORE ATTEMPTING TO USE THIS BATHROOM SCALE PLEASE READ THE FOLLOWING INSTRUCIONS:
1. Place your bathroom scale on a flat and even surface.
2. When standing on your bathroom scale, make sure your feet are placed evenly on it.
3. Make sure zero on the dial lines up with the indicator line on the lens. If it doesn't, turn the adjusting wheel until it does.
4. Stand still, displayed weight will vary if you move.

Em espanhol a tradução está perfeita, em francês tem alguns erros menores de ortografia e de contexto mas quando se chega ao português é isto :

Balança de Banheiro
POR FAVOR NOTE: ANTES DE TENTAR USAR ESTA BALANÇA DE BANHEIRO, POR FAVOR LEIA AS INSTRUÇÕES SEGUINTES:
1.lugar sua balança de banheiro em um apartamento e até mesmo superficle.
2. ao se levantar em sua balança de Banheiro, tenha certeza seus pés são coloca uniformemente nisto.
3. faça zero seguro no dial se alinha com a linha de indicador na lente. Se isto doesn't, vire a roda ajustando até que faz.
4. fique parado, peso exibido variará se você mover.

Juro que escrevi letra a letra e ponto a ponto o que aparece no folheto de instruções. E como se não fosse suficiente, o raio da balança ainda me deu 4 quilos a mais do que eu pensava que estava a pesar.
Rais partam isto!!!

P.S. : Antes que a malta me comece a chamar gordo devo referir que no fundo do folheto aparece a indicação que a balança tem um erro de +/- 2 kg. Ou seja posso pesar ainda MAIS dois quilos.

quarta-feira, junho 16, 2004

Portugal 2 - Rússia 0 ( E o país respira de novo)

Bom jogo esta noite da selecção nacional, numa exibição bem conseguida e que deu origem a uma vitória justa, pecando apenas esta por escassa. Interessantes também foram as alterações que Scolari introduziu no onze inicial, a darem frutos evidentes e imediatos. A começar pela defesa e mais concretamente pelas laterais, Miguel encheu o campo com entrega e rapidez na hora de desarmar o adversário, bem melhor que Paulo Ferreira, tanto a atacar como a defender. Nuno Valente também esteve ligeiramente melhor que Rui Jorge embora se tenha evidenciado mais no aspecto defensivo até porque era pelo seu flanco que se desenrolavam a maioria dos ataques russos. Estranho para mim foi a troca de Fernando Couto por Ricardo Silva, permanecendo Jorge Andrade a titular, para mim um dos piores em campo contra a Grécia e decididamente o pior no jogo desta noite. No meio campo a troca de Rui Costa por Deco acabou por ser o maior trunfo de Scolari, já que Deco finalmente demonstrou todo o seu potencial ao serviço da selecção, coisa que ainda não tinha acontecido em nenhuma ocasião. A zona central portuguesa esteve mais dinâmica e mais fluída, servindo como real catalisador do ataque, algo que contra os gregos nunca se veio a verificar. Maniche beneficiou também com a entrada do luso-brasileiro já que se mostrou em plano muito superior, actuando com mais garra e cotando-se como peça importante na transposição defesa/ataque. Penso que Costinha deveria ter sido substituido por Petit, já que de novo demonstrou não estar em bom momento de forma, longe de aparecer com o fulgor e a eficácia no desarme que lhe são habituais. Quem esteve bem melhor foram Simão e Figo, a justificarem ambos a chamada à equipa. Pauleta mais uma vez muito sózinho na frente voltou a desiludir, não entrando verdadeiramente na luta pelo espaço dentro da área, missão melhor desempenhada por Nuno Gomes no segundo tempo. Incrivel sem dúvida o golo falhado por Nuno Gomes, demorando demasiado quando tinha a baliza à sua mercê e permitindo o corte de um defesa. Bem melhor também esteve Cristiano Ronaldo que deixou as fintas ridículas em casa e tratou de ganhar a linha em velocidade e dando uso à boa técnica que possui para gerar jogo efectivo e criar reais ocasiões de golo, como aconteceria no segundo tento luso em que após bom cruzamento seu surgiria Rui Costa para finalizar à vontade. A selecção entrou principalmente com outra atitude, resolveu mandar para trás das costas o nervosismo e a pressão dos adeptos e apostar na velocidade e no querer para ultrapassar esta primeira e primordial barreira que nos separa do acesso aos Quartos de Final. Pena foi que essa forma de jogar não se tenha mantido constante ao longo dos 90 minutos já que poderiamos ter alcançado um resultado bem mais dilatado, ainda mais a jogar contra 10 durante toda a segunda parte. De realçar que Ovchinnikov foi mal expulso já que não chega a tocar efectivamente com a mão na bola fora da área. Quanto à equipa russa pareceu-me ter entrado em campo já derrotada, depois de um resultado negativo contra a Espanha e do caso Mostovoi que culminou na sua expulsão da equipa. Bastante limitada em termos de escolhas para a defesa após a expulsão de Sharonov no primeiro jogo, a equipa russa não chegou nem a criar verdadeiro perigo nem a practicar o futebol bonito que mostrou contra os espanhois. Considerando o resultado do Espanha-Grécia desta tarde resta-nos então a difícil e espinhosa missão de vencer 'nuestros hermanos' para nos podermos qualificar com a Grécia. Devo ainda fazer notar dois pontos importantes pela negativa no que concerne às circunstâncias que rodearam a partida. Em primeiro lugar não compreendo como adeptos de uma selecção nacional, neste caso da nossa, se deslocam a um estádio para supostamente apoiarem o seu país e acabam a assobiar os próprios compatriotas que estão em campo. Impressionante e bestial ao mesmo tempo. Em segundo lugar gostava que alguém me explicasse porque é que eu e muitos outros milhares de portugueses não conseguimos comprar bilhetes para um jogo que supostamente estava esgotado quando todos pudemos constatar pelas imagens televisivas que existiam em diversos níveis do estádio manchas enormes de lugares vazios. O que fizeram aos bilhetinhos então ?

Euro 2004 - 1ª Jornada

Aqui fica um pequeno resumo da 1ª Jornada do "nosso" Europeu, ou pelo menos dos jogos que tive oportunidade de acompanhar :

(Portugal 1 - Grécia 2) - Sobre este jogo não falo mais, já tudo foi dito, analizado e esmiuçado. Os supostos culpados já foram crucificados pela imprensa pelo que por mim acho que já chega.

(Espanha 1 - Rússia 0) - A Espanha mostrou que é uma equipa que joga futebol a sério e mesmo não tendo Raúl no seu melhor mostrou ter um conjunto superior, bem superior ao nosso pelo menos. Penso que demonstrou que poderá ir longe neste campeonato. Vicente demonstrou que está prestes a tornar-se na estrela da companhia, um extremo esquerdo à antiga, que faz vibrar o público com os seus dribles, técnica e velocidade. Na selecção espanhola Raúl Bravo destoa um pouco do resto da equipa, falta-lhe qualidade e classe. A Rússia padece do mesmo problema que Portugal tinha aqui há uns anos (ou se calhar ainda tem...), possui uma equipa cheia de jogadores tecnicistas mas não possui pontas de lança, como aliás ficou bem patente neste jogo. Mais uma equipa de centro-campistas talentosos que terão sempre problemas na concretização. Com uma defesa de recurso e que apresenta algumas lacunas evidentes, os dois centrais titulares ficaram de fora do Europeu por lesão, a equipa Russa fica ainda mais fragilizada após a expulsão de Sharonov que não vai poder alinhar contra Portugal.

(Suíça 0 - Croácia 0) - Não vi este jogo mas pelo que me disseram foi um dos mais fracos do Europeu, o que aliás não me surpreende. Não conheço a fundo a equipa Suíça mas pelo que tenho visto da selecção Croata nos últimos anos parece-me que tem vindo a cair bastante de qualidade, cada vez mais longe dos tempos de Suker, Boksic e Prosinecki. Mais uma equipa que ao envelhecer não encontra substitutos à altura. Isto lembra-me alguma coisa.

(França 2 - Inglaterra 1) - Sem dúvida o primeiro grande jogo do Europeu, acabou por não desapontar ninguém (com possivel excepção dos ingleses), não tanto pela qualidade do futebol jogado mas pela fenomenal reviravolta que a França deu no resultado já depois da hora. Apesar das suas principais estrelas, Zidane e Henry terem estado bastantes furos abaixo do seu habitual nível, a França dominou o encontro do início ao fim. Não consigo por isso entender os "comentadores" desportivos que insistem em que a Inglaterra não merecia ter perdido o jogo. Os ingleses acabam por chegar ao golo num lance fortuito de bola parada numa altura em que não tinham ainda feito nada para o merecer, momento após o qual se remeteram inexoravelmente para a defesa, numa clara tentativa de congelar o jogo e aguentar o resultado. Na 2ªParte a equipa inglesa criou apenas um lance de perigo, aliás um excelente lance de futebol em que Rooney se isolou e sofreu uma grande penalidade clara. Barthez mágnifico defendeu o excelente remate de Beckham e manteve a França na corrida. Os franceses atacavam de forma um pouco confusa insistindo muito em tabelinhas pelo centro do terreno mas o facto é que atacavam, tentando até ao fim inverter o resultado. Pelo crêr e pela força que colocaram em campo até ao último minuto mereceram bem a vitória. Na Inglaterra Owen, Scholes e Gerrard foram uma autêntica sombra de si mesmos, destacando-se este último pelo passe errado que originou a grande penalidade que decidiria o resultado final. Muito bem esteve o jovem Rooney lá na frente, apesar de mostrar alguma tendência para o jogo sujo. Muito bem também esteve Beckham, apesar de ter tido um papel mais defensivo do que ofensivo e de ter "falhado" um penalty. Na França destaco pela negativa Gallas e pela positiva o óbvio Zidane que mostrou o que é ser um fora de série nos momentos cruciais.

(Dinamarca 0 - Itália 0) - Não gostei particularmente deste jogo apesar das inúmeras oportunidades de golo que existiram e em que os Guarda Redes brilharam a grande altura. Esperava muito mais da equipa italiana e muito menos da equipa dinamarquesa pelo que acabei por ficar duplamente surpreendido pelo resultado e pelas exibições. Alguém compreende como é que Trapattoni consegue manter Vieri até ao fim do jogo quando este mal toca na bola durante os 90 minutos ? Tanto a Itália como a Dinamarca vão ter grandes dificuldades contra a Suécia e a Bulgária num grupo que parece dos mais equilibrados.

(Suécia 5 - Bulgária 0) - Até ao momento a goleada do Europeu (Portugal ainda não jogou contra a Rússia) entre duas equipas que disputaram de forma extremamente equilibrada os primeiros 25 minutos e em que se assistiu a um futebol de qualidade por parte de ambos os conjuntos. A Suécia foi sem dúvida um justo vencedor mas esteve bastante longe de merecer uma vantagem tão esmagadora sobre uma Bulgária que, se não se fôr abaixo psicológicamente, ainda vai dar muito trabalho a italianos e dinamarqueses. Os suecos mostraram ser uma equipa de ataque puro, não sendo por acaso que apresenta um fabuloso naipe de jogadores do meio campo para a frente, Nilsson, Svensson, Ljunberg, Larsson e Ibrahimovic. Extraordinária a prestação de Wilhelmsson que entrou na 2ª Parte e que por várias vezes realizou diagonais ao longo de todo o terreno de jogo com a bola controlada e a uma velocidade fenomenal.

(Rép.Checa 2 - Letónia 1) - Para mim o melhor jogo deste Europeu, onde a Letónia esteve prestes a rivalizar com a Grécia como surpresa da jornada mas onde a superior qualidade dos checos acabou por vir ao de cima. Grande Poborski a desenhar fenomenais arrancadas pela extrema direita (que saudades de outras tardes num outro malogrado estádio), o lance do primeiro golo checo foi todo inventado por ele. A Letónia apresenta uma fragilidade defensiva aflitiva mas um contra-ataque demolidor de onde se destaca Rubins, um autêntico sprinter que correu quilometros pela esquerda do ataque letão. A Rép.Checa pareceu abalada com o golo sofrido, mas partiu para o ataque continuado que susteve durante todos os segundos 45 minutos e que acabaria por dar o fruto esperado. Incrivel o falhanço de Baros à boca da baliza após um mágnifico cruzamento da direita, acabaria porém por se redimir já perto do fim apontando o golo da vitória na sequência de um corte algo ingénuo de um defensor letão.

(Alemanha 1 - Holanda 1) - Mais um grande embate entre duas super potências do futebol europeu. Jogo bastante disputado mas sem grandes riscos entre os dois conjuntos com o empate a assentar que nem uma luva. Pareceu-me até que as duas selecções esperavam já À partida o repartir dos pontos para depois pensar apenas nos jogos contra a Letónia e Rép.Checa. Pode ser que tenham azar.


Fora do âmbito desportivo há ainda a lamentar as habituais cenas tristes protagonizadas por um dos povos mais estúpidos da europa, os ingleses. De há 2 ou 3 dias para cá têm-se divertido a destruir as ruas de Albufeira, numa clara demonstração de falta de civismo e de mau perder. Acho que ninguém esperava outra coisa de tais morcões. Hoje de manhã estive a apreciar as imagens de milhares de adeptos que se concentraram durante toda a noite passada na zona da Ribeira no Porto, onde estiveram até às 5 da manhã a beber e a cantar. Alemães, croatas, portugueses, holandeses e muitos outros numa demonstração espontânea de alegria e divertimento onde não se passou um único incidente. É óbvio que os civilizados ingleses não foram convidados.

sábado, junho 12, 2004

Portugal 1 - Grécia 2 (Eu ainda acredito)

Não querendo desde já desanimar ou começar a atirar pedras para o ár sinto-me, como Português e consequentemente treinador de bancada que sou, na obrigação moral de debitar aqui algumas reflexões sobre a partida de hoje e as exibições de alguns atletas lusos.
Em primeiro lugar é fácil crucificar desde já Scolari, Paulo Ferreira e Cristiano Ronaldo, protagonistas destacados e indesmentíveis do desaire. Proponho-me então a crucificar mas de forma ponderada e analítica. Vamos por partes, a Scolari não me parece que se possa ter pedido muito mais, jogou com uma formação clássica contra uma equipa grega que se esperava bastante mais defensiva e que teve ainda o mérito de não o passar a ser após começar tão cedo a vencer. Descutível para mim é a entrada de Cristiano Ronaldo, mas assumo que é uma questão que nunca merecerá consenso nacional, quem devia ter entrado, quem deveria ter saído.
Em relação à Grécia continuo a pensar que é uma equipa mediana e que não oferecerá grande réplica contra a Espanha já no próximo jogo, tendo efectuado uma grande partida mais por demérito nosso que por mérito próprio.
Em relação aos jogadores Portugueses :
Jorge Andrade depois desta exibição deveria ir até ao banco e dar o lugar a Ricardo Carvalho. Na minha modesta opinião jogou sem classe, transparecendo sempre insegurança e falta de entendimento com Couto e até Ricardo, abusando exageradamente dos charutos lá para a frente.
Paulo Ferreira ficou desde logo marcado por ser o autor do passe falhado que deu origem ao primeiro golo. Já antes desse erro tinha efectuado um passe disparatado que denotava algum nervosismo. Teve porém um jogo inteiro para emendar a falha e qualidade é coisa que não lhe falta pelo que não compreendo como pôde fazer tão má exibição. Constantemente chamado por Scolari para subir pelo flanco raramente o fez, o que é estranho atendendo ao facto do ataque grego ter desaparecido na 2ª parte. Chegou ao ponto de se recusar a meter o pé à bola quando poderia cruzar com perigo já no final da partida em lance com um adversário por perto. Muito estranho para um jogador do Porto. Ah é verdade, ele já foi vendido.
Simão e Rui Costa são ambos bem substituídos já que nunca apareceram em jogo, consequência directa do golo madrugador. A Grécia ganha ânimo e acaba por defender melhor durante toda a 1ª parte.
Pauleta não ganhou um lance contra o seu marcador directo, não efectuou um remate. Diga-se em sua defesa que também não lhe chegaram bolas de qualidade para poder finalizar.
Cristiano Ronaldo não é jogador de futebol, é um atleta de circo. Ganhou várias vezes a linha e não efectuou um cruzamento de jeito, ainda por cima já com dois Pontas de Lança na área. Pede-se atitude e não fintas de merda que não levam a nada.
Figo fez o que pôde, talvez pudesse ter soltado mais a bola na 1ª parte. No segundo tempo Scolari colocou-o à parte, só Deco e Ronaldo jogavam pelo flanco esquerdo, tendo Figo que sair da direita para poder tocar no esférico. Teve boas penetrações em drible mas não chegou a efectuar nenhum remate de perigo. Acabou por mostrar no final que passar pelos Gregos até não era assim tão difícil...
Deco entrou com uma boa atitude mas não chegou a desiquilibrar. Parece ter entrado com ordens para meter apenas a bola no flanco esquerdo onde estava Ronaldo. Bizarro.
A partida de hoje acabou por ser um desastre nacional não só em campo mas também ao nível dos bastidores, com a RTP a oferecer à Europa (e não só) uma transmissão ao nível de um país do 3º mundo, recheada de problemas técnicos e afins. Eu, passado um bocado virei para a TVE onde acabei por seguir o jogo até ao seu final.
Uma palavra ainda para o público português que nunca baixou os braços, não se cansando de apoiar a selecção até ao fim, mesmo quando o desfecho já era claro. Espero que a malta mantenha a mesma atitude e que essa atitude passe para os jogadores.
Eu ainda acredito.

Vida alternativa

Hoje acordei cedinho, infelizmente sou daqueles que dormem mal e pouco, e rumei à Costa da Caparica para uma daquelas almoçaradas em família que fazemos regularmente entre os membros do clã radicados em Lisboa. Assim que cheguei vi-me confrontado com a incontornável obrigação de passar a manhã toda a trabalhar. Em primeiro lugar tinha de lavar o carro que não via água desde o último casamento a que fui, há quase 2 meses. A tarefa seguinte consistia no aparar do relvado que não via a máquina há mais de 6 meses e que por esta altura atingia já, em alguns locais, a mágnifica altura de meio metro. Em atenção ao facto de estar de férias decidi iniciar o trabalho pela leitura do jornal desportivo do dia, inteirando-me de antemão das escolhas de Scolari para o jogo de hoje. Depois e com um alento já acrescido iniciei a lavagem da viatura, mas uma lavagem suave, nada de muito complicado ou minucioso que o carro já está velho e o sol já apertava. Entre conversas com os vizinhos que iam passando e mangueiradas fortuítas no veículo lá acabei a tarefa de forma minimamente satisfatória, pelo menos o suficiente para não ter de ouvir a minha mãe reclamar mais da camada de sujidade que transformava um carro branco em bom estado num chaço amarelo-acastanhado. Lancei-me então à 2ª tarefa da manhã, o corte dos dois pequenos rectângulos de relva que decoram a frente da casa, tarefa essa que já implica maior esforço fisico, mas à qual não arranjei maneira de me furtar. De qualquer forma é um trabalho que faço com um certo prazer, agora bastante mais facilitado pela máquina que me foi emprestada por um amigo. Antes cortava a relvinha à tesourada numa missão que normalmente se estendia por várias horas e que terminava indubitávelmente em bolhas nas mãos e dores pelo resto da semana. Sempre gostei de jardinagem embora reconheça não ter grandes conhecimentos do assunto. Basta-me a alegria de ter as maõs na terra, os pés descalços em contacto com a relva acabada de aparar e a constatação final de um trabalho bem feito, a simetria do relvado, o tapete verde regular. Passada uma hora e muito suor perdido deito-me cansado mas satisfeito na erva fresca, com as pernas ao sol e a cabeça protegida pela vegetação que circunda a casa. Inspiro a tranquilidade do local, um pinhal ainda não muito desbastado, onde os pardais e melros abundam e enchem o ár com as suas vozes estridentes. Penso no que a malta da cidade perde em nunca ter experimentado nada disto, não saber o que é ir pelos montes atrás dum rebanho de ovelhas, jogar às cartas à sombra refrescante de um carvalho ou beber a água límpida numa fonte que jorra de uma rocha. Tudo isto são recordações da minha infância quando ia passar férias à aldeia dos meus pais no belo distrito da Guarda, bem junto à mais alta serra do nosso Portugal. Nestes momentos sou frequentemente assaltado pela sensação de que a vida é bem simples, nada de problemas, stresses ou pressas, só a tranquilidade e o calor do sol. Prazeres simples que muitas vezes menosprezamos mas que com o passar do tempo aprendemos a apreciar cada vez mais. Ergo-me enfim para uma mangueirada de água fria que me ajuda a refrescar e voltar à realidade. É tempo de ir ver do almoço, não esquecendo que o Portugal - Grécia está já a poucas horas.

sexta-feira, junho 11, 2004

Os Piratas estão de volta. Vivam os Piratas!!!

Hoje é um dia especial para mim, entrei oficialmente de férias, umas férias mesmo a sério, como há já muitos anos não tinha, quase 30 dias seguidos de preguiça. No tempo da faculdade isso sim, meses e meses sem fazer nenhum. E quando acabavam as aulas ainda ia de férias... Agora e após meia dúzia de anos de trabalhos forçados apenas intervalados com uma reles semanita de vez em quando admito que perdi um bocado o jeito para gozar tantos dias de descanso seguidos. Estou para aqui sem saber bem o que fazer e apenas os afazeres relacionados como a minha eminente mudança de domicílio me mantêm minimamente ocupado. Decido então rever mais uma vez (para aí pela 5ª vez em dois meses) aquele que para mim e até à data é um dos melhores filmes que vi este ano, "Pirates of the Caribbean : The Curse of the Black Pearl". Um autêntico hino ao divertimento e à aventura, este título faz reviver um género completamente desprezado nas últimas décadas, o filme de piratas. Escusado será dizer que eu sou um apreciador de tal tipo de acção desde o tempo em que o canal público exibia todos os fins de semana fitas a preto e branco dos anos 40 e 50 em que as sangrentas batalhas maritímas entre piratas e a marinha de sua majestade me faziam vibrar. Interessante é o facto desta obra dos nossos dias ter ido buscar imensas referências a esses filmes antigos, que qualquer apreciador reconhece imediatamente e que servem apenas para a valorizar. Fenomenal mesmo é a actuação de Johnny Depp (por mim eternamente apelidado de Johnny "Fundo"), actor que embora esteja bem longe da minha preferência, encontra aqui um papel à sua justa medida e que poucos poderiam encarnar tão bem. Desde a maneira de falar da personagem aos seus inúmeros tiques corporais e expressões cómicas, tudo no Capitão Jack Sparrow parece ter sido desenhado ao pormenor para ser representado por Depp. Memorável a cena em que surge pela primeira vez no filme a entrar no cais de Port Royal no topo do mastro de um navio que lentamente se afunda, só tendo ele então que saltar para o cais à medida que o mastro vai descendo. Como em Hollywood a imaginação e a inteligência já não abundam por aí além, de há uns anos para cá começou-se uma tradição, da qual em breve escreverei um Post mais alargado, de fazer filmes aos pares. Ou seja, quando um tema dá resultado e é mais ou menos inovador, como que por magia surgem sempre em paralelo dois filmes semelhantes. Neste caso surgiu logo "Master and Commander : The Far Side of the World". Os mais entusiastas dirão logo que não, aqui não há piratas, este filme é completamente diferente. É óbvio que o filme é diferente, mas a temática é exactamente a mesma e o importante é capitalizar em algo que será à partida um sucesso garantido. Savvy ?

quarta-feira, junho 09, 2004

Sinais do Euro

Já desde a passada semana que reparo nas janelas de algumas casas da capital enfeitadas com bandeiras portuguesas. De há alguns dias para cá também os táxis da cidade começaram a envergar as referidas bandeiras, começando agora alguns particulares a seguirem-lhes o exemplo e a enfeitarem as suas viaturas como todo o tipo de ensígnias nacionais. Não sei quem teve a idéia mas é uma excelente oportunidade de fazer dinheiro pelo que os kits 'Selecção Nacional' compostos de cachecol e bandeira se têm vendido como papo-secos. Desconheço se a moda pegou pelo resto do país mas por Lisboa já é complicado passar por 2 prédios seguidos em que não esteja pelo menos uma bandeira numa janela. Questões económicas ou oportunistas à parte, penso ser positiva esta demonstração de orgulho e confiança nacional, já que não é todos os dias que o nosso país está nos olhos da Europa e do mundo. Pelo menos por agora estaremos aos olhos de todos por razões bem mais positivas do que nos últimos tempos. E durante um mês, ou pelo menos até sermos eliminados (ou não, isso é que era bom) poderemos sonhar e esquecer a crise económica, o desemprego, a incompetência dos politicos, a corrupção, os escândalos sociais, enfim a triste realidade que nos rodeia. Curioso é que hoje quando passava pela estação do metro de Entrecampos noto que directamente por cima da linha do comboio, encastrado no tecto da estação instalaram um painel branco de dimensões apreciáveis virado para cada uma das plataformas. O dito painel pode servir para várias coisas, projecção de publicidade por exemplo, mas numa manobra especulativa vamos supôr que os tipos vão começar a usar o dito para passar os jogos do Euro em directo. Já estou mesmo a ver a cena, meio de Junho, um calor abrasador dentro da estação, plataforma cheia, a malta mira ansiosamente o ecran à espera do golo, passam 23 comboios seguidos em que ninguém entra ou sai, a Espanha no ataque, Raúl aponta um golo de antologia após passar por Fernando Couto que ficou a ver a bola, a malta desanima, com apenas alguns segundos para jogar e numa decisão unânime, democrática e ponderada atiram-se uns quantos espanhóis à linha para aprenderem a não festejarem golos contra a nossa selecção. Ah valentes!!!

Campeões !!!

Não posso deixar passar a ocasião de anunciar ao mundo que a equipa de Futsal onde jogo e em que tenho a honra de desempenhar o cargo de Director Financeiro venceu pela 2ª vez em 3 anos e em tantas outras participações, o Campeonato Distrital de FutSal do Inatel 2003/2004 (distrito de Lisboa). Para os meus companheiros de equipa, amigos, familiares e demais simpatizantes do clube que acorreram ontem ao jogo decisivo aqui ficam os meus agradecimentos pela presença e apoio que nos deram em mais uma vitória. Agora resta saber-se em que cidade se realizarão as Finais Nacionais onde tentaremos revalidar o título que já foi nosso em 2002.

segunda-feira, junho 07, 2004

A melhor sitcom de todos os tempos

Este fim-de-semana foi para mim de descanso e pasmaceira. Se no sábado ainda saí para fazer umas compras e aproveitei para dar uma limpeza à casa, no Domingo o entorpecimento foi total, limitando a minha actividade física às mudanças de poiso, nomeadamente da cama para o sofá, do sofá para o computador, do computador para a cama. Devo dizer que é um ciclo altamente vicioso pelo que não recomendo esta práctica a ninguém que não seja dotado de grande força de vontade. De contrário correm o perigo de permanecer na mesma rotina ao longo do resto da semana. Confesso que este ano ainda não tinha lido um único livro verdadeiro, daqueles à moda antiga feitos com papel, pelo que foi com algum prazer adicional que peguei ontem em mais uma das minhas fantásticas escolhas provenientes da Feira do Livro e iniciei a leitura. A escolha acabou por provar-se não tão fantástica como inicalmente previ, afinal o livro só custava 500 paus mas era um bocado chato pelo que cedo me vi confrontado com a obrigatoriedade de ligar a televisão para passar o tempo. Pessoalmente não tenho nenhum preconceito contra a televisão nem acho que seja à partida um meio de comunicação inferior ou reservado a pessoas de baixa cultura, como alguns pseudo-intelectuais que por aí abundam não se cansam de afirmar. Toda a vida fui um ávido consumidor televisivo e não foi por isso que me tornei mais estúpido do que sou, tudo se resume a uma escolha criteriosa do que se vê. Infelizmente de há uns anos para cá a qualidade tem-se afundado a olhos vistos e o espectador vê-se limitado na escolha. Ora então liguei a televisão e depois da ronda pelos canais habituais estacionei um bocado na Sic Radical que transmitia mais um directo do Rock in Rio. O ambiente era fabuloso com perto de 100.000 pessoas a vibrarem intensamente com a entusiástica Ivete Sangalo, um autêntico furacão no palco. Apesar de não ser um tipo de música que me agrade de sobremaneira há que reconhecer que a senhora sabe puxar pela platéia e pôr o povo a mexer. A única banda que me faria ir ao Rock in Rio não esteve presente pelo que me contentei em acompanhar o festival no conforto do meu quarto. É pena porque em 2002, em pleno Rio de Janeiro frente a cerca de 250.000 pessoas os Iron Maiden deram um concerto histórico, que preservo em DVD como se de um tesuro se tratásse. A seguir veio o Alejandro Sanz e como já estava farto de música reiniciei a ronda pelos canais até me lembrar que estava para começar aquela que, até prova em contrário, é quanto a mim a melhor sitcom de sempre. Falo obviamente do genial "All in the Family" que é como quem diz "Uma família às direitas", transmitida em compacto de 5 episódios todos os Sábados e Domingos na Sic Gold. Esta é uma série que acompanho desde tenra idade, porque eu ainda sou do tempo em que o bacalhau era a 5 tostões o kilo (o que merda vem a ser um tostão ?) e em que só existiam dois canais para a malta se entreter. Nessa altura haviam duas séries diárias na RTP 2 que eu nunca perdia, uma a referida sitcom, outra a inesquecível e inigualável "The Twilight Zone". Acerca de "All in the Family" e além da evidente piada que todos os membros do elenco têm (ainda hoje e passados 33 anos da sua estréia), devo salientar o chefe da familia Bunker, Archie Bunker. Archie é o arquétipo do americano comum de classe média dos anos 70, branco, bronco e autoritário, que apesar de se queixar de tudo e de todos não deixa de patrioticamente apoiar o seu presidente, à época Richard Nixon, mesmo durante o escândalo watergate e ainda depois de este se demitir. Archie é um racista inveterado e não se coíbe de demonstrar a todo o momento a sua xenófobia gritante, mas é também um ignorante pelo que cada vez que tenta denegrir um preto, um latino ou um polaco acaba por se ridicularizar a si próprio. Este é sem dúvida um dos grandes trunfos da série e talvez até o principal segredo do seu sucesso e longevidade. Archie não tem qualquer pejo nem vergonha em utilizar termos polémicos como escarumba ou preto só porque são desconfortáveis, antes pelo contrário, já que eles retractam a realidade americana dos anos 70, em que a luta pelos direitos cívis mais básicos era ainda uma realidade bem presente para os afro-americanos e não só. No outro extremo da balança encontra-se a doce esposa de Archie, Edith, que alia à extrema inocência uma idiotice de partir o coco. O quadro familiar é completado por Glória, a filha liberal de Archie e o seu jovem marido Mike, estudante universitário sempre envolvido em causas politicas e humanitárias, de ascendência polaca e a quem Archie se refere carinhosamente como "Meathead", o famoso cabeça de abóbora. A ajudar declaradamente à festa estão os vizinhos pretos de Archie, os Jeffersons, que constituem como que uma imagem ao espelho da familia Bunker, mas do ponto de vista negro. O seu chefe de familia é tão racista como Archie pelo que entre eles sempre se verificam duelos memoráveis. Num dos meus episódios favoritos os dois unem forças para não permitir a entrada no bairro de um casal de Portoriquenhos, esquecendo-se entretanto das rivalidades entre ambos bem como das barreiras sociais e étnicas que os separavam até aí. Delicioso.

Leio hoje num outro blog que Seinfeld estará de regresso aos nossos ecrans em Setembro, por intermédio da Sic Radical. Espero sinceramente que seja exibido a uma hora mais decente do que aquela a que os anormais da Tvi o faziam. Esta também uma grande, grande sitcom.

sábado, junho 05, 2004

Todos ao Parque Eduardo VII (este título é perigoso...)

Já há alguns dias que aqui não escrevia, esta semana foi difícil encontrar tempo, o trabalho aumentou e a vontade não se manteve ao mesmo nível das primeiras semanas de vida do blog. De qualquer forma aqui estou prestes a verter de novo o que me vai no pensamento numa prosa que espero ser minimamente legível e interessante. Esta semana fui à Feira do Livro acompanhado de alguns amigos e vim de lá com um apreciável carregamento de literatura para digerir ao longo do corrente mês, em que por sinal vou estar de férias. Este ano na sua 74ª edição a Feira foi realocada para o topo do Parque Eduardo VII, o que não deve ter dado muito jeito aos seus habituais fregueses nocturnos bem como aos respectivos fornecedores que costumam bater a zona. Enfim, tentando sempre não nos aproximar muito de nenhuma "criancinha" que por lá andásse perdida,(não queriamos ser associados a alguma situação duvidosa) adentrámos o referido parque e iniciámos a descida entre os pavilhões da margem direita. O arvoredo circundante bem como a brisa do fim de tarde proporcionavam uma sensação refrescante em contraste com as altissimas temperaturas verificadas durante o dia, pelo que nos moviamos confortável e lentamente entre os pavilhões das várias editoras expostas. O ritmo era porém apressado com alguma frequência pelo amigo João que estando algo faminto só pensava em dirigir-se ao restaurante mais próximo. De qualquer forma passámos ainda 2 boas horas a vasculhar por entre obras tão díspares como curiosas, desde alguns clássicos da literatura mundial até aos compêndios de culinária vegetariana, passando por roteiros túristicos ou obras de carácter pseudo-religioso que sempre me trazem à lembrança os salafrários da IURD e as suas tácticas de arrebanhamento de fíeis. O dinheiro é que não dava para tudo e mais do que uma vez tive de escolher entre dois ou três livros presentes no mesmo expositor, e não fui só eu, o mesmo se passou com os que me acompanharam. É que os preços oscilavam entre o realmente barato e o ainda bastante caro, razão pela qual muitos livros ficaram por comprar. Talvez para o próximo ano eu consiga finalmente começar a colecção de Banda Desenhada que ambiciono há já algum tempo. Cansados e famintos (já todos nós) rumámos então ao único local capaz de saciar tão voraz apetite, tanto em qualidade como em quantidade, um pequeno restaurante indiano localizado perto dos Restauradores com o nome de Maharaja. Aí terminámos a noite num verdadeiro festim gastronómico, em que os sabores, os motivos decorativos e a música indiana se misturam para proporcionar ao visitante uma experiência única. Recomendo incondicionalmente, não é própriamente barato mas vale bem a pena.

Em jeito de fim de festa deixo então aqui a lista de livros que escolhi para este ano bem como o critério que me levou a seleccionar cada um deles :

- O Velho e o Mar (Ernest Hemingway) - Porque é um clássico, de um autor galardoado com um Prémio Nobel e porque ainda não conhecia nenhuma das suas obras. Por acaso acabei de ler este livro há algumas horas e apreciei bastante a forma simples com que é escrito bem como a pureza da história que nele é retractada.

- Notícia de um Sequestro (Gabriel García Marquez) - Tendo já lido algumas das fascinantes histórias deste colombiano, gostei imenso de "Amor em tempo de Cólera", aproveitei a ocasião e o significativo desconto para adquirir mais uma obra de um autor de vulto.

- A Metamorfose (Franz Kafka) - Ainda só li um livro de Kafka, "O Processo", que confesso até não ter apreciado por aí além, mas tinha um colega de faculdade que falava horas a fio deste livro e que era fantástico e a coisa mais brilhante que tivera a felicidade de ler. Pois então 10 anos volvidos, vou finalmente ver se o tipo tinha razão. Se não gostar vou pedir o dinheiro de volta...

- O Nó do Problema (Graham Greene) - Pois, este ninguém percebeu. Eu passo a explicar. Em primeiro lugar custou 500 paus (eu gosto imenso de usar a expressão 'paus', dá um maior realismo à coisa, não tinha sentido nenhum dizer dois euros e meio, falta-lhe impacto, temos que modernizar o calão). Em segundo lugar é um livro de um autor que eu aprecio e cuja acção se passa na África Ocidental no período da 2ª Grande Guerra. Daí ter que ser bom. Topem só o pormenor da tradução do título : 'The Heart of the Matter' = 'O Nó do Problema'. Brilhante!!!

- Ensaio sobre a Lucidez (José Saramago) - Diz aqui na capa que esta é a 2ª edição e leva já 130.000 exemplares impressos. Pena é que a maior parte desses milhares de exemplares servirão apenas para enfeitar prateleiras. De qualquer forma é sempre chique ter o Saramago na mesinha da sala durante um ano ou dois, desde que não vão lá sempre as mesmas pessoas. Senão é melhor ir alternando com qualquer coisa do Lobo Antunes por exemplo... Um dos melhores livros que li na vida foi precisamente o 'Ensaio sobre a Cegueira' pelo que aguardava com ansiedade por este novo livro do célebre laureado.

- As Cruzadas vistas pelos Árabes (Amin Maalouf) - Aqui há uns anos um colega de trabalho e bom amigo também emprestou-me um livro deste mesmo autor, fabulosa visão da história de uma perspectiva completamente diferente daquela a que nós ocidentais estamos habituados. Já na altura me tinha falado especificamente sobre este título como sendo o melhor que ele teria lido do autor. Espero que sim, já que gostei imenso dos outros quatro que já comprei e li desde então.

- A Divina Comédia de Ariadne e Júpiter (Shere Hite) - Este livro veio de brinde com o anterior. A malta da Difel, além de publicar excelentes obras e distribuir excelentes e esclarecedores catálogos do que publica, ainda oferece umas borlas. Bravo para eles.

- O Rinoceronte do Papa (Lawrence Norfolk) - Um livro que eu já tinha referenciado há muitos anos mas que o preço proibitivo me tinha impedido de adquirir. Fala dos descobrimentos portugueses, ou pelo menos da época em nós ainda descobriamos alguma coisa de útil. Neste século ainda só descobrimos que somos um país de pedófilos governados por uma corja de ladrões... Já é qualquer coisa.

terça-feira, junho 01, 2004

O Verão está à porta

Nem mais, hoje declaro oficialmente aberta a estação estival, acabou-se a chuva e o mau tempo e a partir de agora preparem-se que vai ser calor até Setembro. Sim, eu sei que ainda faltam 20 dias para a inauguração oficial mas se não acreditam eu passo a explicar. Hoje precisei de chegar cedinho ao trabalho, era dia de passar para o ambiente de produção umas quantas funcionalidades porreiras em que tenho andado a trabalhar e que tanto vão facilitar a vida a dezenas senão mesmo a centenas de milhares de portugueses. Fica então feita a minha contribuição mensal para o bem estar social do país. Ora digam lá se eu não sou um tipo porreiro... e modesto, acima de tudo. Ao realizar portanto esta manhã o meu pequeno trajecto diário a pé desde Entrecampos até ao local de trabalho e considerando que era ainda cedo, umas 7:20 da manhã, consegui em apenas 20 minutos de passeio chegar ao emprego a suar que nem um porco, mesmo que passando desesperadamente por todas as sombras que podia encontrar. Ora como podem imaginar é uma experiência extremamente agradável estar já com um certo odor corporal a uma hora tão matutina, para mais contemplando ainda um largo dia de trabalho pela frente. Para melhorar ainda mais a situação cheguei à brilhante conclusão que hoje, que está um calor dos diabos, vesti um fato de inverno, daqueles de lã, dos que os pastores usam em Trás-os-Montes entre os meses de Novembro e Fevereiro. O dia de hoje é claramente para esquecer, vou portanto falar da noite de ontem. Ora ontem, embuído ainda do entusiasmo contagiante que me levou a declarar a minha indepêndencia habitacional e encontrando a conta bancária mais gorda com o salário mensal (não muito mais gorda mas enfim, lembram-se da anedota do etíope ? Pois...) decidi rumar ao Colombo, antro consumista que bastas vezes evitei mas ao qual a extrema concentração de serviços, marcas e produtos dá a vantagem de bem servir o transeunte que se acha com algum dinheiro no bolso. Decidido a prosseguir com o processo de recheio do apartamento avancei destemido por entre os turistas de montras, as dondocas e outros que mais quadrúpedes e energúmenos que por ali pastavam despreocupadamente. Não sendo um visitante habitual do local pensei socorrer-me dos mapas espalhados em bom número pelas encruzilhadas e onde figuram todos os estabelecimentos presentes na área comercial, ainda por cima divididos por actividade e ordenados alfabéticamente. Ora qual não é o meu espanto quando um segurança, ao ver-me percorrer a lista de lojas com ár inquiridor, se aproximou de mim e se ofereceu para me ajudar a encontrar o meu destino. 'Alto ao treino', pensei imediatamente, contendo-me para não recuar receoso perante ele, um segurança do Colombo a querer ser útil e prestável, onde é que estão as câmaras dos apanhados ??? Mas não, a verdade é que o tipo foi extremamente simpático, indicou-me o caminho para a loja onde eu pretendia chegar, inclusivamente dando direcções num português perfeitamente compreensivel e fluente. Só no final da conversa, percebendo um ligeiro retorcimento no sotaque percebi que o rapaz não era lisboeta. Fiquei imediatamente mais descansado. Seguidamente a segunda surpresa da noite, na loja da Portugal Telecom onde fui tratar da instalação do telefone fui atendido por um tipo extremamente amável e competente que se disponibilizou a explicar-me todos os pormenores acerca do serviço (ou da armadilha) que estava prestes a contratar. Eu que já tenho uma certa experiência a contactar com funcionários da referida empresa não pude deixar de me admirar pois sempre pensei que eles só contratavam pessoal com base no elevado grau de alarvidade que demostrassem. Ou muito me engano ou o rapaz que me atendeu não vai durar muito na PT, aquilo não é ambiente para ele. Segui então para aquela que seria a última compra da noite, uma televisão daquelas pequenas para pôr na cozinha, tinha já um modelo em mente que tinha observado no site da Worten. Entrei então pela Worten e dirigi-me ao local onde se deveria encontrar a gama das pequenas televisões, lá estava a Philips de 37 cm que me interessava, a única daquele tamanho com som stéreo. Munido que estava de um carrinho que surripiei do Continente, sou e serei sempre um tipo prevenido e cuidadoso, comecei a revirar os caixotes em busca da minha futura Tv. Estavam lá mais dois modelos da marca, alías bastante parecidos com a tal em termos de aspecto, mas com menos funcionalidades. Surpreendentemente acerca-se de mim um empregado que me pergunta se pode ajudar. Aí ia perdendo as estribeiras, julguei mesmo ter entrado numa dimensão paralela ou então tinha sido teleportado para a Suécia onde, por artes mágicas a malta continuava a falar português. Mas não, aí estava mais um empregado prestável, ofereceu-se para procurar o aparelho e quando não deu por ele dirigiu-se ao armazém para se inteirar da sua disponibilidade imediata. Após 6 ou 7 minutos chegou com a triste noticia de que aquele que estava em exposição era o único exemplar em stock. Desiludido perguntei para quando esperavam receber mais daqueles televisores, altura em que o rapaz, entre gaguejos e hesitações me explicou que, pois, realmente pensava receber mais, mas no entanto não era garantido, talvez sim, compreenda que eu não tenho controle, passe por cá um dia destes, sei lá, talvez no sábado. Agradecendo a boa vontade retirei-me mais aliviado, afinal ainda não tinha dado em maluco.
Balanço da noite consumista, ou mais concretamente de cerca de 3 horas a vaguear pelo Colombo, consegui gastar o ordenado do passado mês mais uma grande parte do próximo, pelo que auguro umas férias em grande passadas na minha casinha a nada mais que pão e água, enquanto contemplo a excelente vista para o Atlântico, que para já ainda é de graça.